Quaresma,
período de penitência e preparação para a festa mais importante da fé cristã, a
Páscoa. Embora seja um tempo penitencial, não é triste e depressivo, como
muitos pensam. Trata-se de um tempo especial de purificação e de renovação da
vida cristã para poder participar em plenitude e com mais alegria do mistério
pascal de Cristo.
Durante
quarenta dias somos convidados à experiência do deserto vivido por Jesus na
tentação. O deserto, apesar de nos trazer a figura do sofrimento e da penúria,
remete-nos à esperança de renascermos para uma vida nova, assim como o povo de
Israel que, após a libertação da escravidão no Egito, chegou à Terra Prometida.
A
Quaresma nos chama à renovação, conversão e “morte ao pecado”, para que
possamos ressurgir para uma vida nova com Cristo na sua Páscoa. As cinzas,
recebidas no início da Quaresma, são usadas como sinal desse arrependimento e
luto pelo pecado. Dessa forma, reconhecemos que somos todos igualmente
pecadores e pedimos ao Senhor a graça da conversão, a fim de mudar nossa vida
pessoal e social.
A
Igreja recomenda aos cristãos três principais obras de misericórdia que, de
modo especial na Quaresma, devem ser praticadas frequentemente: a oração, para
o recolhimento e proximidade com Deus; o jejum, renúncia alegre do supérfluo,
como forma de ser solidário com aqueles que não têm o necessário; e a esmola,
não de forma mesquinha de quem dá o que sobra, mas no sentido bíblico de ter
amor e compaixão pelos excluídos e injustiçados. Esses gestos não podem fazer
parte do nosso cotidiano como um mero costume ou formalismo, pois acabariam
perdendo seu real significado, o de serem um método a serviço da vida, uma
forma de possibilitar o encontro do homem consigo mesmo, com Deus e com os
outros irmãos.
Como
diz o documento “Sacrosanctum Concilium”, do Concílio Vaticano II, “a
penitência do tempo quaresmal não seja somente interna e individual, mas também
externa e social.” (SC, 110) Por isso a Igreja no Brasil organiza todos os
anos, durante o tempo da Quaresma, desde 1964, a Campanha da Fraternidade que
focaliza um aspecto de nossa vida em sociedade em que a fraternidade não está
sendo vivida, a fim de que, como cristãos, possamos contribuir para que a
humanidade alcance este objetivo. Este ano, ela tem como tema “Fraternidade e Tráfico
Humano” e como lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou”.
Por
ocasião da Quaresma, são retirados das celebrações litúrgicas os cantos de
Glória e de Aleluia, que manifestam alegria e regozijo para dar lugar a um
clima de maior recolhimento e penitência. Pelo mesmo motivo, o ambiente das
igrejas requer sobriedade e despojamento não se usando flores nem outros
enfeites para orná-lo.
A
Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria
conversão. Esse caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao homem
velho que atua em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nossos
corações, afastando-nos de tudo aquilo que nos separa do Plano de Deus e, por
conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal.
Reflitamos
a palavra de Cristo que nos diz: “Não se coloca vinho novo em odres velhos; do
contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem.
Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se
conservam.” (Mt 9, 17) Portanto, para que a Páscoa seja vivida com toda a sua
riqueza espiritual, a Quaresma deve ser vista como um meio de conversão, uma
proposta de caminhada em busca do nascimento de um homem novo.
Por: Emanuel Costa
Arantes, postulante da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos
0 comentários:
Postar um comentário