Modelo admirável
para nossas vidas, a Virgem Santíssima nos ensina como cumprir o preceito
divino: Amar a Deus sobre todas as coisas.
Por
insuficiente formação religiosa, muitos não sabem que os mandamentos da Lei de
Deus são hierárquicos. Isto quer dizer que o primeiro deles implica mais
obrigações que os outros. Sendo assim, para a perfeição na vida espiritual
devemos ser especialmente zelosos em cumprir o primeiro mandamento.
Ora, na
formulação desse mandamento — Amar a Deus sobre todas as coisas —
há duas partes bem claras: a primeira é amar a Deus; a segunda,
fazê-lo mais do que a todas as outras coisas. Quando pensam sobre
esse mandamento, ou quando fazem o exame de consciência, muitos tendem a
separar uma parte da outra. Perguntam a si mesmos: Eu amo a Deus? Respondem que
sim, e muito até. Com isso ficam satisfeitos, mas se esquecem da segunda parte.
Ora, ao desligar uma parte da outra, deformam-lhe o sentido. Pois não basta
amar a Deus um pouco, ou bastante, ou de forma passional. É preciso amá-lo
sobre todas as coisas, o que inclui também os amores legítimos, até mesmo os
mais legítimos, como o amor maternal ou filial.
O
mais alto amor de Deus
Por
exemplo, é difícil encontrar algo mais legítimo do que o amor de uma mãe pelo
seu filho. Mas, no caso em que Deus coloque para a pessoa a escolha entre o
amor de Deus ou o amor ao filho, uma mãe verdadeiramente cristã deve sempre
escolher o amor de Deus, por maior e mais legítimo que seja o amor a seu filho.
Mesmo quando esse for seu único filho. E a participação de Maria Santíssima na
Paixão de Nosso Senhor é a prova disso. Chegado o momento de escolher entre o
amor natural da mãe por seu filho, ou levar o amor de Deus ao ponto de preferir
para o filho todos os tormentos físicos e morais antes que desobedecer a Deus,
Nossa Senhora preferiu sempre o mais perfeito.
Alguém
poderia dizer que esse exemplo é muito bonito, mas... não é prático. Afinal, a
quantas mães Deus pede que assistam à crucifixão do filho?
O pedido
de Deus não chega geralmente até a crucifixão do filho, ou algo semelhante, mas
pode chegar, por exemplo, a que a mãe aceite separar-se dele. Digamos que o
filho ou filha tenha vocação para entrar num mosteiro contemplativo, onde os
familiares não podem entrar ou têm as visitas severamente limitadas. Mãe
verdadeiramente cristã aceitará, por amor de Deus, essa separação. Por quê?
Exatamente porque o amor de Deus deve passar por cima do amor ao filho. Ora, é
nesta matéria que notamos uma quantidade enorme de loucuras, mesmo de pessoas
que se dizem católicas.
Recentemente,
tomei conhecimento do caso de uma mãe que freqüentava todos os dias a igreja, e
que, quando a filha decidiu entrar para um convento de freiras carmelitas, foi
dominada por uma raiva tal que chegou ao extremo de jogar diariamente revistas
imorais por cima do muro do convento, na esperança de que a filha as visse e
decidisse mudar de vida. Chegado o momento da provação, ficou claro que ela não
tinha um amor de Deus sobre todas as coisas.
As
bodas de Caná
Na Sagrada
Escritura Nossa Senhora é mencionada em poucas oportunidades. Uma delas é o
episódio das bodas de Caná. Seu coração comoveu-se por ter a família dos noivos
ficado sem vinho suficiente. Apresentou a Nosso Senhor a situação, e Ele
respondeu-lhe de forma evasiva. Que fez Ela? Acaso usou de sua autoridade
materna? Não. Manifestou de forma pública o dever de amar a Deus sobre todas as
coisas. Como? Dizendo aos servidores: Fazei tudo o que Ele vos disser.
Aqui convém salientar a palavra tudo e a flexão verbal fazei.
A Virgem não respondeu algo como vejam se é possível fazer o que ele
sugerir, ou então seria conveniente tentar algo do que ele
disser. Não, Ela é incisiva: Fazei tudo. É o dever de amar a
Deus sobre todas as coisas levado à prática.
Acontece
que o dever de amar a Deus sobre todas as coisas é particularmente difícil pelo
fato de não compreendermos sempre o que Deus quer. Isso também aconteceu, em
algumas ocasiões, com Nossa Senhora, mas Ela nos mostra como agir nesses casos.
A
perda do Menino Jesus
Tomemos o
episódio do Menino Jesus que ficou algum tempo desaparecido (Lc 2, 41-52). Aos
doze anos Ele foi com os pais a Jerusalém, e no caminho de volta desapareceu.
Os pais o buscaram aflitos durante três dias, e afinal o encontraram no Templo.
Nossa Senhora perguntou: Meu filho, por que fizeste isto? Teu pai e eu,
angustiados, te buscávamos. Estas palavras nos provam que a Santíssima
Virgem não entendia o motivo de tal comportamento. Mais ainda, o próprio
Evangelho o diz claramente. Jesus respondeu: Por que me buscáveis? Não
sabeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai? E o evangelista
acrescenta que eles não entenderam suas palavras.
Realmente,
dava para não entender! Se Jesus tivesse dito a eles: Vou a Jerusalém,
ocupar-me das coisas de meu Pai, eles teriam consentido sem relutar. Mais
ainda, sabendo que Ele é Deus, bastava que lhes tivesse simplesmente dito vou
partir ou vou voltar, que eles teriam entendido. Por que
partir dessa forma, sem avisar, deixando-os perplexos e podendo suspeitar que
Deus estava irritado com eles? Por que forçá-los a procurá-Lo por três dias?
Deus tinha motivos altíssimos para isso. Queria dar um exemplo para toda a
História, e é a partir desse episódio que São Tomás de Aquino mostra como
devemos abandonar tudo, até os pais mais santos, para seguir a Deus. Mas como
podiam São José e a Virgem saber disso naquele momento?
Nossa
Senhora certamente não entendeu o motivo, pois o Evangelho é muito claro nesse
ponto. Mas isso não significa que permaneceu sempre sem entender, porque a
continuação do Evangelho relata que Sua Mãe meditava todas essas coisas
no seu coração. O amor de Deus levou Nossa Senhora pelo caminho correto.
Nada de revolta, nada de queixas, nada de repreensões ou mau humor. Pelo
contrário, dedicou-se à meditação para buscar entender o motivo que leva um
Deus perfeito a praticar um ato como esse. Pela meditação, pela submissão, pela
humildade, Ela encontrou a verdade.
Este é um exemplo luminoso para nós. Pois muitas e muitas vezes Deus nos
envia provações que não entendemos, seja uma doença, seja a separação duma
pessoa querida, seja uma perda econômica, etc. Se realmente desejamos cumprir o
primeiro mandamento nesse momento de provação, tomemos Nossa Senhora como
modelo. Sem nos revoltarmos, meditemos seriamente os motivos que levam um Deus
perfeito a permitir tal coisa. Assim, teremos aproveitado a lição que a Santa
Virgem nos ensina.
Fonte: Catolicismo.com
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